Escrever este texto me deu prazer, e espero que a leitura também seja prazerosa pra você – prazerosa e informativa. Quando a gente encontra estímulo no que faz, o trabalho flui com facilidade, e o resultado é mais satisfatório. Porém, já que estamos falando em tédio, vamos imaginar como seria se eu tivesse que trabalhar sem entusiasmo, sem encontrar prazer no que estou fazendo. Em suma, entediado.
Provavelmente estaria olhando para a tela vazia do computador. Tão vazia quanto pareceria estar minha cabeça e o ambiente à minha volta. Não seria depressão: talvez a expressão mais apropriada, ainda que não mais elegante, seja saco cheio. Total falta de vontade para pesquisar, organizar as informações e as ideias, construir as frases e os parágrafos. Nem preguiça, nem cansaço, e sim o sentimento de que todo esse trabalho não me daria qualquer satisfação. A própria ideia de sentar-me à mesa para trabalhar já me pareceria aborrecida.
Estou sofrendo justamente com o que deveria estar descrevendo no artigo que não consigo começar: com o tédio. Essa dificuldade em focalizar a atenção, em encontrar estímulo para realizar qualquer atividade, já que nenhuma parece gratificante o suficiente. Quando muito intenso e prolongado, esse estado de ânimo pode, sim, ser sintoma de depressão, que é uma psicopatologia. Já o tédio não é doença, mas nem por isso deixa de ser desconfortável e paralisante. Ainda bem que, ao contrário da depressão, pode ir embora por si mesmo.
No que, então, o tédio nos tolhe, do que ele nos priva? Creio que nos priva do desejo, da energia necessária para cuidar daquilo que está à nossa volta, para interagir de maneira produtiva com o ambiente. Nossa casa, as pessoas com quem convivemos, nosso trabalho – por alguma razão nada parece suficiente para nos dar entusiasmo. Me vem à mente uma ideia do filósofo alemão Martin Heidegger: a essência da existência é o cuidado. Cuidado que se manifesta como ocupação e como preocupação; ocupação conosco e com o que está à nossa volta; preocupação com o outro e com o mundo que se estende além de nós. O vazio do tédio é o oposto do preenchimento pelo entusiasmo, que tem sua origem no grego “enthousiasmos” – estar inspirado por um deus interior.
O homem, também nos diz Heidegger, é o pastor do ser, e o pastor não deve faltar com o cuidado por aquilo que é responsável – sua própria existência.
Vou me esforçar para escrever o artigo.
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