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Psicólogo Humberto de Almeida

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Foto de Cristina Raposo

Eu sou o psicólogo Humberto de Almeida, e esse é o blog Além das Palavras.

Antes de ser psicólogo, trabalhei em chão de fábrica sonhando fazer poesia. Escrevi muita poesia sonhando com o chão da fábrica. Ganhei a vida como publicitário, sempre lutando com as palavras, sempre brincando com elas. Quando o jogo parecia definido – o jogo da vida – dobrei o lance e comecei de novo, dessa vez como psicólogo. É assim que eu me encontro hoje, à espera do nosso encontro, de onde quer que você esteja. 

 

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Foto do escritor: Humberto de AlmeidaHumberto de Almeida


Escrever este texto me deu prazer, e espero que a leitura também seja prazerosa pra você – prazerosa e informativa. Quando a gente encontra estímulo no que faz, o trabalho flui com facilidade, e o resultado é mais satisfatório. Porém, já que estamos falando em tédio, vamos imaginar como seria se eu tivesse que trabalhar sem entusiasmo, sem encontrar prazer no que estou fazendo. Em suma, entediado.


Provavelmente estaria olhando para a tela vazia do computador. Tão vazia quanto pareceria estar minha cabeça e o ambiente à minha volta. Não seria depressão: talvez a expressão mais apropriada, ainda que não mais elegante, seja saco cheio. Total falta de vontade para pesquisar, organizar as informações e as ideias, construir as frases e os parágrafos. Nem preguiça, nem cansaço, e sim o sentimento de que todo esse trabalho não me daria qualquer satisfação. A própria ideia de sentar-me à mesa para trabalhar já me pareceria aborrecida.


Estou sofrendo justamente com o que deveria estar descrevendo no artigo que não consigo começar: com o tédio. Essa dificuldade em focalizar a atenção, em encontrar estímulo para realizar qualquer atividade, já que nenhuma parece gratificante o suficiente. Quando muito intenso e prolongado, esse estado de ânimo pode, sim, ser sintoma de depressão, que é uma psicopatologia. Já o tédio não é doença, mas nem por isso deixa de ser desconfortável e paralisante. Ainda bem que, ao contrário da depressão, pode ir embora por si mesmo.


No que, então, o tédio nos tolhe, do que ele nos priva? Creio que nos priva do desejo, da energia necessária para cuidar daquilo que está à nossa volta, para interagir de maneira produtiva com o ambiente. Nossa casa, as pessoas com quem convivemos, nosso trabalho – por alguma razão nada parece suficiente para nos dar entusiasmo. Me vem à mente uma ideia do filósofo alemão Martin Heidegger: a essência da existência é o cuidado. Cuidado que se manifesta como ocupação e como preocupação; ocupação conosco e com o que está à nossa volta; preocupação com o outro e com o mundo que se estende além de nós. O vazio do tédio é o oposto do preenchimento pelo entusiasmo, que tem sua origem no grego “enthousiasmos” – estar inspirado por um deus interior.


O homem, também nos diz Heidegger, é o pastor do ser, e o pastor não deve faltar com o cuidado por aquilo que é responsável – sua própria existência.


Vou me esforçar para escrever o artigo.

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Foto do escritor: Humberto de AlmeidaHumberto de Almeida


O medo é uma emoção humana básica, e tão adaptativa quanto a ansiedade: ambas nos põem em alerta, nos preparam para a luta ou a fuga. É também uma emoção primitiva, que compartilhamos com outras formas de vida, em especial com os animais superiores. No entanto, é uma emoção mais ambígua e cheia de nuances do que a ansiedade. Pode ser fonte de angústia e desconforto, mas também de prazer. Pode nos paralisar, e também nos predispor à resistência. Pode ser usada como arma de manipulação política e está sujeita a juízos de valor.

O medo como fonte de prazer

Pouca gente se disporia a praticar uma atividade que lhe despertasse ansiedade, tristeza ou nojo. No entanto, não são poucos os que se dispõem a experimentar o medo, seja assistindo a um filme de terror, seja despencando em uma montanha russa. Experiências como essas, vividas em situação de segurança, estimulam neurotransmissores como a adrenalina, que aumenta nossa capacidade de reação ao perigo, e a dopamina, responsável pela sensação de prazer. O medo protegido atrai até mesmo as crianças, que com isso aprendem a lidar com essa emoção.

Medo e juízo de valor

Nossa cultura nos induz a colocar o medo em oposição à coragem, como uma deficiência dos fracos e pusilânimes. Ocorre que o medo é uma emoção universal, um recurso que ao longo da evolução nos preservou dos perigos. A total ausência de medo nos poria tão vulneráveis quanto a ausência de um sistema imunológico. A coragem, portanto, não é ausência de medo, e sim a capacidade e a disposição psicológica de agir apesar dele. É um atributo humano que podemos aprender e cultivar.

O medo como instrumento de manipulação

As tiranias, os regimes discricionários e as instituições autoritárias podem diferir em muitos aspectos, mas têm em comum a habilidade de incutir e manipular o medo das pessoas. O medo, nesses casos, tem por objetivo estimular tanto a submissão quanto a agressividade: submissão ao poder e agressividade contra a suposta fonte do medo – o outro, o diferente. É interessante notar que as mesmas visões de mundo que estimulam o temor aos poderes ocultos que tramam a dominação global, ao diferente que quer destruir nosso modo de vida, são complacentes com os perigos reais: a pandemia, a sociedade armada, o ódio às diferenças.

Quando o medo se converte em transtorno

Colocando no plural a frase do poeta romano Terêncio: somos homens, e nada do que é humano nos é estranho. Do ponto de vista psicológico, e mesmo psicopatológico, isso significa que os afetos humanos diferem em quantidade, e não em qualidade. É o que nos permite compreender uns aos outros, ainda que as emoções nos afetem em intensidades diferentes. Uma mesma emoção – no caso, o medo – pode induzir à prudência e à cautela, que são adaptativas, e também ao pânico e ao terror, que podem ser insuportavelmente dolorosos e paralisantes.

Tudo depende da intensidade, e o medo desproporcionalmente intenso se torna patológico; quando específico, configura o que clinicamente se denomina fobia. Medo de altura, na acrofobia; medo de multidões e espaços abertos, na agorafobia; medo de espaços restritos e fechados, na claustrofobia; medo de se expor ao julgamento alheio e interagir com desconhecidos, na fobia social; sensação de desintegração e morte iminente no transtorno do pânico. Aqui chegamos ao terreno dos transtornos mentais e de comportamento, que demandam cuidado psicoterapêutico e psiquiátrico.

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Foto do escritor: Humberto de AlmeidaHumberto de Almeida

Você já teve medo de ter medo? Já teve vergonha de ter medo? O medo, medo saudável, é um recurso evolutivo fundamental pra preservar nossa integridade. Só estamos aqui porque, em algum momento, um de nossos antepassados temeu e evitou situações potencialmente fatais.


No entanto, quantas vezes ouvimos ao longo da nossa vida, em especial na nossa infância: Tá com medo?! Patife! Mulherzinha! Como se ter medo fosse uma deficiência feminina! Medo de ter medo: a falsa coragem, que se faz de valente para não encarar os perigos reais, as circunstâncias da vida que demandam prudência e respeito. Eu tenho medo, sim, de muita coisa.


Tenho medo de viver numa sociedade armada, onde as pessoas atirem umas nas outras por diferenças irrelevantes. De atravessar uma avenida por onde circule um motorista que não tem medo de beber e dirigir. De encontrar alguém que em plena pandemia exige que eu o cumprimente como homem: sem máscara e com abraço!


Se você não tem medo por si, tema por quem você ama. Se não se cuida por temor, se cuide por solidariedade. O verdadeiro medo, o bom medo, tem feito mais pela nossa humanidade do que toda essa falsa coragem.

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